segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Girassóis
Há tempos sonhava, ela, com o dia que (quase) todas, elas, sonham. Já planejara o vestido branco e escolhera as rendinhas, a flor no cabelo, as fitas e as luzinhas. Mas ha mais tempos ainda, sonhara com tal dia avivado em girassóis.
Acontece que tinha, ela, ouvidos e, portanto, medos. Não dela, não nascidos nela, mas que s’engavetavam e sombreavam-lhe o peito, vindo da boca dos outros. Veio, um desses dias, nesta, a aflitiva idéia de que o dito dia depositava ao casal um peso que lhes machuca e lhes arrisca a vida leve e eterna d’amores.
Tendo como mais valiosa essa sua paixão que, inclusive, já lhe preenchera bons 4 anos, decidiu deixar dissolver ao vento a vontade do casório e viver o junto, e pronto.
Mas não, não morreu nela, nas próximas dezenas de anos as rendas, a flor de cabelo, as fitas, as luzinhas e, muito menos, os girassóis. Mas foi ela assassina do peso de não tê-lo feito. Matou devagarinho, bem devagarinho, o arrependimento de não ter vivido “o” dia.
Matou-o todos as manhãs, com os carinhos na pele daquele que disse sim.
Matou-o todas as tardes com as fitas que amarrou pela casa.
Matou-o todas as noites, com as luzinhas que pendurou nas paredes.
Matou-o todas as madrugadas, com os beijos de sim que dava na boca do homem qu’ela jurou e quis cuidar.
Matou-o toda semana, quando comprava, no fim da descida, depois do canal, quase na praia, uns girassóis que cultivava com água e sonhos realizados.
Viveu, ela, todos os dias, o dia, com vários homens, num só. Escolhia-o, casavam, embaraçavam as coisas, escolhia-o de novo e casavam. Quantas vezes quisessem, quantos lados quisessem um d’outro.
Mallu Magalhães
@GerhardOnline
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