W J




Categorias,











Perfil,
A Gerhard Online é a sua mais nova revista online diária. Aqui você encontra matérias e entrevistas com diversos artistas, conhece e debate assuntos, expõem sua opinião e fica ligado nas maiores tendências da atualidade, além de conferir diariamente nosso Boteco Literário.

Contato,
Orkut
Twitter
Onlinegerhard@gmail.com
Creditos
HTML e design por Willy / Devoré blog

Contador de visitas

quarta-feira, 14 de julho de 2010



A seguir, o relato de um sobrevivente:

"Não conseguia mover meus membros. Por sorte ainda tinha sensibilidade e podia perceber que meu rosto era iluminado intensamente, como os raios solares, com sua radiação me fornecendo calor. Tentei abrir os olhos, mas fui forçado a mantê-los semicerrados, a luz cegava. Deveria ser o Sol, só podia ser o Sol.

O resto de meu corpo doía, mal tinha forças para me retorcer numa vã tentativa de disfarçar o incômodo para minha própria dignidade. Sentia frio, apesar de crer que o Sol estava sobre mim.

Um súbito pânico se apoderou de mim - onde eu estava? Teriam me roubado? Encarei a cegueira do abrir os olhos e vi o que me iluminava: era um sol. Um sol artificial que, ao me soerguer penosamente e girar o pescoço para a direita e para a esquerda, eu via repetidas vezes, numa fileira de luzes alimentadas por elétrons. Aquele era o meu céu de todos os anos, o sol das ruas, dos seres rastejantes e dos noctívagos. Malditos postes.

Levantei-me e tentei me lembrar do que ocorrera ao olhar os hematomas. Briga por peças para um braço biônico! Como fora um boçal ao enfrentar um bando de punks em clara desvantagem numérica, apesar de possuir um braço de força sobre-humana quase finalizado. Tudo que eu queria era o conjunto de peças para terminar o projeto de minha mãe, Eve, feito em mim mesmo. Creio que fiquei horas estirado no chão e nenhuma criatura para prezar pela "ordem social" apareceu, como nosso presidente assume de forma tão fremente que é feito.

Ordem social o inferno! Mundo perdido, de loucos egocêntricos e nenhuma noção de caridade sem fins igualmente egoístas. Se pudessem me eliminar, certamente já estaria morto. Mas que podia fazer eu, um mero número perante o governo e o mundo, para alterar todo um sistema? Eve diria: "Estude História."

Desde criança, eu a observava montar e desmontar autômatos, relógios, computadores, uma infinidade de coisas. Aquilo tudo me fascinava e eu desejava fazer parte, então pedi a minha mãe que me permitisse conhecer seu ofício e praticá-lo. Eve me trouxe um pequeno relógio que girava normalmente e me ordenou: "Faça com que os ponteiros parem de girar sem danificar uma peça sequer."

Eu não consegui. Manipulei aquela máquina e, embora eu já a conhecesse de vista, não sabia como desmontá-la, era mais complexa que o exterior poderia revelar. Por um instante, pensei em bater com o relógio na mesa, mas lembrei que não poderia causar dano a nenhuma peça. Temendo fazer qualquer asneira, estagnei em um silêncio constrangido, rapidamente notado por Eve.

"Não sabe como, não é?" Assenti abaixando a cabeça, mas ela, delicadamente, virou meu rosto para si, erguendo-o e me disse: "Para se desmontar algo, precisamos conhecer como foi montado, filho. Saiba como as coisas foram feitas para que possa desfazê-las, é bem simples."

Uma das poucas memórias que ainda tenho é esta e por isso digo que Eve, se estivesse viva, me diria para estudar História. O horrendo sistema de agora é resultado de uma sequência de eventos, conduzidos pelos Regentes, através da História. Toda tentativa de mudança através da violência nunca funciona, pegue o caso de revoluções. Uma minoria perceptiva e sagaz agita a população, que consegue tirar os tiranos do poder, mas aquela minoria intelectualizada toma o poder e ela mesma se torna tirana. Os laços de poder são restabelecidos, ou seja, pela violência e quebra do sistema sem atingir suas origens, não existe mudança real. Se eu soubesse como que o humano chegou a este ponto no qual nossa sociedade está agora, usaria os mesmos ideais para o propósito reverso, mas do que adianta se os registros históricos são todos falsos?

A História foi reescrita sob pontos de vista particulares, não temos depoimentos de pessoas na época que ocorreram. Muito foi queimado e escondido pelo governo. Quando temos, existem opiniões díspares e nossos Regentes escolhem apenas uma para nos ensinar na escola.

Não se pode confiar em nada... E eu continuo sendo um número, que vai morrer como qualquer um sem fazer merda alguma para mudar esse sistema.”

Beatriz B.,16 anos, www.blindance.blogspot.com.

@gerhardonline

Um comentário: